O Brasil vai entrar
em 2019 no topo da lista dos países com a maior alíquota de imposto sobre o
lucro das empresas em todo o mundo.
A França, que hoje
lidera o ranking, promoverá um corte já anunciado pelo presidente Emmanuel
Macron, que prevê queda dos atuais 34,4% para 25% até 2022.
A alíquota que
incide sobre o lucro das empresas no Brasil (cobradas pelo Imposto de Renda e
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) é de 34%.
O levantamento foi
feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),
grupo de países com economias mais desenvolvidas do mundo e que tem as
alíquotas mais elevadas globalmente. O Brasil não faz parte da organização, mas
pleiteia uma vaga.
A ventania global
de redução da carga tributária das empresas ganhou velocidade ao longo de 2018
com a adoção de uma política mais agressiva por Estados Unidos, Bélgica e
França.
A equipe econômica
do presidente eleito Jair Bolsonaro já adiantou que mudanças nessa área estão
em estudo para aumentar a produtividade e o crescimento da economia.
O assunto é tema do
mais amplo estudo especial que está sendo elaborado pela Instituição Fiscal
Independente (IFI) do Senado Federal e será divulgado em breve para servir de
subsídio ao debate da reforma tributária.
Para o diretor executivo
da IFI, Felipe Salto, o Brasil tem um sistema tributário muito complexo, com
carga elevada, que dificulta a vida de quem produz. “A IFI não sugere o menu.
Nada impede que a gente opine sobre o cardápio que está na mesa.”
Historicamente, a
queda das alíquotas vem ocorrendo desde as décadas de 70 e 80 em função de
competição dos países por investimentos internacionais.
Foi uma forma
também de os países lidarem com o movimento das multinacionais de “mover
lucros” para paraísos fiscais, o que reduz a arrecadação.
Com a crise
internacional e a necessidade de ajustes fiscais, os países que adotaram essa
prática, entre 2008 e 2015, compensaram a redução da carga tributária nas
empresas com o aumento da tributação nas pessoas físicas para não terem grande
perda de arrecadação.
Segundo Rodrigo
Orair, especialista no tema e diretor da IFI, a partir de 2016, muitos desses
países já resolveram o problema fiscal e passaram a se preocupar com o
crescimento econômico, adotando uma política mais agressiva de queda.
A Irlanda puxou a
fila ao jogar a alíquota para 12,5%. E depois vários países anunciaram mudanças
para patamares mais baixos.
A maior queda foi
verificada nos Estados Unidos, que reduziu abruptamente a alíquota do Imposto
de Renda cobrado das empresas de 35% para 21% em 2018.
Para Orair, os
países estão reduzindo a alíquota chamada estatutária (que não considera as
deduções previstas na legislação), mas ao mesmo tempo estão limitando algumas
deduções do IR das pessoas jurídicas, ampliando a base de incidência ou fazendo
uma série de revisão dos benefícios tributários.
Segundo ele, a
reforma tributária do presidente dos EUA, Donald Trump, reduziu um volume
grande de deduções que as empresas podiam fazer.
A expectativa é que
o Brasil siga a política de Trump. “A grande dúvida é se o time de Paulo Guedes
vai compensar total ou parcialmente tributando dividendos na pessoa física ou
limitando os juros sobre capital próprio”, diz Orair.
A equipe econômica
do governo Temer chegou a elaborar uma proposta de mudança, mas não houve tempo
de enviar ao Congresso.
“O tempo acabou e
não tivemos ambiente político para encaminhada essa discussão. Agora cabe ao
próximo governo”, diz Eduardo Guardia, ministro da Fazenda. Segundo ele, a
proposta foi apresentada à equipe de Paulo Guedes, seu sucessor no cargo.